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Os Índios fazem parte da história e cultura de nosso país, parte tão importante que antes de estarmos aqui, nossas terras eram cuidadas por eles, o dia 19 de abril é uma homenagem aos Índios do nosso país. E em nossa região tivemos muitos deles conheça a história de uma grande homenagem regional.

Os Carijós – Arte Entalhada

Quem entra na Casa da Cultura Dide Brandão é recepcionado pelo mural exposto ao lado das galerias. A obra “Os Carijós”, entalhada em madeira de cedro rosa pelo artista Itajaiense Silvestre João de Souza Júnior, 65 anos, é uma homenagem aos antigos índios que habitavam a região do vale do Itajaí. A obra agora passa por restauro realizado pelo próprio artista. A primeira etapa foi a lavagem de todo o painel, em seguida três aplicações de óleo de peroba, para que sombra e luz continuassem a criar o efeito ilusório.

Créditos: Casa da Cultura

Créditos: Casa da Cultura

Inicialmente, o painel foi esboçado apenas com formas geométricas, as figuras humanas seriam uma sugestão de sua presença. Na época, o artista era inspirado pelo esoterismo, geometria e matemática. O painel foi desenvolvido em uma das salas da Casa da Cultura, era quase uma atração artística, todos que passavam davam uma olhadinha e deixavam seus palpites, assim a figura humana foi moldando-se diferente do planejado. Do seu original geométrico virou realista, mas o artista acredita que nada é por acaso, “acabei saindo daquela rigidez pitagórica em que eu estava”, explica. Para Silvestre as figuras humanas são o que mais tocam visualmente as pessoas, “uma coisa incrível essa minha influência, indelevelmente fui hipnotizado”, conta. Representar o ser humano em sua forma natural foi o momento mais trabalhoso na realização da obra segundo o artista, “o nu frontal não deveria chocar nem sensualizar”, revela.

Doação é a palavra que define o processo de realização da obra. A madeira de cedro rosa já estava guardada há trinta anos no Mato Grosso, quando foi doada pela madeireira Menegatti, em 1983. A base do painel é de canela pimenta, uma doação da madeireira Irmãos Pinto, de Antonina, Paraná. A ideia inicial era desenvolver o projeto junto com os alunos da Casa da Cultura Dide Brandão. O quadro seria materializado durante um evento muito importante para a cultura da cidade: O Festival de Inverno. Mas as fortes chuvas resultaram na enchente que interrompeu o evento. As madeiras chegaram a boiar na água enquanto estavam sendo preparadas para receber vida pelas mãos do artista.

Durante os anos de 1983 e 1984 Silvestre desenvolveu a obra sozinho, às vezes trabalhando 16 horas por dia. Após o término foi doada a Itajaí, e hoje faz parte do patrimônio da cidade, exposto na Casa de Cultura Dide Brandão, “creio que é um dos maiores e raros murais em madeira do Brasil, e sinto muito prazer em fazer isso. A questão de doação para mim sempre foi bem prazerosa, porque na época de 80, Itajaí era muito primitiva e ninguém acreditava em arte, então eu fiz para provar que podia existir algo assim, artístico”, explica o artista.

A OBRA

As únicas figuras humanas são os quatro índios em posição de sentinela que seguram objetos remetentes a sua cultura e atividades. Suas posições indicam os pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste. O quadro faz referência ao rio Itajaí Açu, representado pelas três ondas pequenas que se encontram com as ondas maiores: o mar. O morro da armação é visto da mesma maneira como o enxergamos da praia de Cabeçudas, com seus altos e baixos relevos. Os pássaros representados por formas geométricas remetem aos biguás, que quando passam pela orla litorânea, se posicionam em forma de triângulo, esta representação simboliza o seu coletivo. Cortado por uma linha horizontal que passa pelo umbigo de cada figura humana, o quadro mantém o seu equilíbrio geométrico.

O artista explica que uma das coisas mais difíceis de fazer não é cortar a madeira, mas realizar suas texturas,sua mão tem que estar livre e solta. E quando toca a madeira, ela aperta e abre, é como quem mergulha rápido e logo aparece na água, tem que tomar cuidado para não dar uma barrigada”. O quadro apresenta diferentes tipos de textura, todos os cortes são feitos para baixo, que dão tons diferentes a obra, sempre relacionada com luz e sombra. Não é um alto relevo tridimensional, mas sim um jogo de ilusão que se expressa por luz e sombra. Na parte de baixo da figura existe uma linha mais funda e preta, onde a sombra está representada e dá força a figura em si, “este tipo de entalhe esta relacionado com a visão, não com o tato”, explica Silvestre.

A técnica é antiga uma evolução do baixo relevo e do alto relevo, que segundo o artista os etruscos e egípcios utilizavam. Os estudos iniciaram com a teoria da escultura bidimensional, depois passou para a prática: a madeira ficava posta horizontalmente no chão, com as luzes apagadas, o artista acendia uma vela e corria com sua luz realizando cortes pelo corpo do material, observando suas nuances e tons claros e escuros, este estudo levou dois anos até chegar ao resultado final, que vemos no painel “Os Carijós”.

Créditos: Casa da Cultura

Créditos: Casa da Cultura

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